“Nem nano, nem prata”. Foi essa a frase ouvida por Oscar Geigner, um tanto embasbacado, de um especialista israelense em nanotecnologia, ainda em 2020, quando o Brasil engatinhava em relação à ciência nanométrica.
O economista formado pela Universidade Mackenzie viajara ao Oriente Médio para conferir a qualidade de uma amostra de nanoprata. Ao receber a surpreendente resposta, não ficara mais qualquer dúvida: o Brasil precisava de um Hub da Nanotecnologia, uma empresa que levasse e ensinasse o uso dessa ciência ao país.
“Imagine como ficou a minha cara. Eu levei uma amostra de nanoprata feita aqui no Brasil para uma referência em nanotecnologia, em Israel, analisar. Naquele momento ficou totalmente claro: precisávamos criar a NanoBrasil”, relembra um dos sócios fundadores e o diretor comercial do, hoje, Hub da Nanotecnologia na América Latina.
Quando tudo ficou claro
Oscar Geigner construiu invejável trajetória por multinacionais. Em uma dessas experiências, quando ainda atuava pela Dell – a gigante da tecnologia -, foi apresentado à nanotecnologia.
“Eu viajava o mundo inteiro para procurar novas tecnologias para trazer para a América Latina. Em todas as feiras de tecnologia, ouvia falar sobre nano, mas, aqui no Brasil, nada… se falava muito pouco”, conta o executivo, relembrando quando ainda morava em São Paulo.
“Quando vim pra cá, para Belo Horizonte, sabia que queria trabalhar com nano”.
E, assim, surgiu a NanoBrasil.
“Depois de um encontro com um velho amigo, o Lucio Coelho, decidimos montar a NanoBrasil. Daí para frente a gente viajou o mundo inteiro procurando empresas que já tinham a rota toda em nano”, afirma o diretor comercial.
“A gente não queria inventar, queria trazer para o Brasil. E isso usando todas as ferramentas que eu havia acumulado durante a minha vida inteira: conhecimento, noções de contrato, comercial etc.”, complementa Oscar Geigner.
O hub que faltava no Brasil
“O nosso processo, basicamente, era o seguinte: representação no começo para experimentar a nanotecnologia, e, em seguida, distribuição, importação e sociedade. A gente compra a patente ou se associa à empresa dona da patente, e começa a fabricar aqui no Brasil” explica Oscar.
“É o que já está acontecendo: já estamos começando a montar a primeira fábrica de nanotecnologia aqui no Brasil. Somos associadas à empresa que inventou essa tecnologia, a chilena Nanotec”, complementa.
A ciência disruptiva!
Oscar não foi atraído pela nanotecnologia apenas pela curiosidade – mas sim pelo potencial disruptivo oferecido pelo universo nanométrico.
“Eu gosto muito de estudar e gosto muito de inovação tecnológica. Tem um conceito que eu gosto demais, o de produtos disruptivos”.
O que isso quer dizer?
“Produtos disruptivos são produtos que, de tão tecnológicos, de tão bons, entram no mercado para substituir os anteriores. Smartphone para outros telefones, o pendrive e assim por diante. Isso são produtos disruptivos e a nanotecnologia oferece isso”, explica.
E na prática?
O poder da nanotecnologia não é impactante apenas no discurso. A NanoBrasil já importou e desenvolveu soluções para gigantes empresas e corporações com braços no nosso país.
Um exemplo?
“Quando você coloca uma certa quantidade de nanocobre em uma tinta, ela dura anos sem produtos químicos. Se você adiciona um pouco mais, ela vira um tinta biocida”.
Você sabe: os biocidas são substâncias utilizadas para combater pragas em geral, como vírus, fungos, bactérias ou insetos. Ou seja, ao pintar uma parede com uma lata de tinta biocida, ela vai matar os microrganismos enquanto houver tinta.
“Não muda as características da matéria. Por exemplo: uma barra de cobre também é biocida, mas uma nanopartícula de cobre é muito mais biocida por causa da área superficial. Vou fazer uma analogia: imagine cobrir um quarto com bolas de futebol. Entre essas bolas, ficarão buracos. Agora, imagine cobrir com areia? A área de contato é muito maior – e, por isso, a nanopartícula tem efeito maior”, explica Oscar.
E como o nano se aplica nos produtos?
É este o trabalho da NanoBrasil.
“Como é uma ciência nova, temos técnicos no Brasil e na América Latina para ajudar a aplicar essas nanopartículas nos produtos e entregar ao cliente tudo pronto”, afirma o diretor comercial.
“O nanocobre, por exemplo, não é tóxico. Você precisa tirar muito menos cobre de uma mina. Vamos acabar com a toxicidade em todos os sentidos. Já estamos trabalhando em agro, nutrição, fertilizantes, lubrificantes, mineração, cosméticos, fármacos… Todo mundo está procurando gastar menos o mundo e produzir melhor”, vibra Oscar Geigner.
“O mundo precisa disso!”.